O protesto que bloqueou pelo menos 16 terminais de ônibus de São Paulo, nesta quarta-feira (10), causou transtornos a usuários que dependiam do transporte público para chegar ao trabalho e cumprir compromissos. A manifestação promovida por motoristas e cobradores de uma chapa de oposição à atual presidência do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano afetou cerca de 400 linhas de ônibus, do total de 1.340 que circulam em São Paulo, segundo a SPTrans. O bloqueio dos terminais começou por volta das 8h. Às 12h20, os manifestantes decidiram liberá-los.
Morador do Valo Velho, o operador Rene Barreto dos Santos, 25 anos, desistiu de ir trabalhar devido à paralisação. Diariamente, ele usa o Terminal Capelinha, na Zona Sul da capital, para chegar ao emprego em Diadema, no ABC. "Já avisei no trabalho [que não irá trabalhar]. Pego um ônibus até a Estação Santa Cruz, outro até a Saúde e outro até Diadema. Normalmente levo duas horas. Hoje não dá para ir", disse.
A agente de saúde Jenifer Emanuela Batista da Silva, 28 anos, foi pega de surpresa no dia em que assinaria um novo contrato de trabalho. "Acordei agora há pouco e moro ao lado do Terminal Capelinha. Não sabia dessa paralisação. Depois de assinar minha demissão, iria assinar um contrato no meu novo trabalho. Estou desesperada", afirmou. Para não perder o compromisso, Jenifer optou pelo uso do Metrô, que funcionou normalmente durante os protestos desta quarta.
Usuários também enfrentavam transtornos no Terminal Parque Dom Pedro II, no Centro de São Paulo. O atendente do Poupatempo Roberto Santos, de 23 anos, que mora no Itaim Paulista, na Zona Leste, conseguiu chegar à região com quase duas horas de atraso. "Fiquei preso no trânsito e vou chegar atrasado no trabalho. Tenho medo de ser demitido, mesmo tendo avisando meu chefe", disse.
O protesto também prejudicou os negócios da camelô Sonia dos Santos, de 54 anos, que vende água nas ruas. "Já perdi uns R$ 150 nesta manhã. Estou querendo ir embora para casa e não consigo", reclama. O vendedor ambulante Samuel Cardoso, 32 anos, que trabalha na Avenida Ricardo Jafet, Zona Sul, foi ao Centro para comprar mercadoria para vender nos semáforos, mas não conseguia voltar para casa por volta das 11h30. "Aqui tem o Metrô, mas não tenho passagem e nem dinheiro".
A vigilante Fátima Mourad, de 29 anos, desistiu da espera por seu ônibus no Terminal Princesa Isabel, na região central, depois de quase duas horas. Ela ligou para o marido, que foi buscá-la. Fátima mora em Cidade Tiradentes, na Zona Leste, e estava em Santa Cecília para uma entrevista de emprego.
Eleições
O bloqueio dos acessos aos terminais aconteceu na véspera do início da eleição do sindicato, em plena campanha eleitoral - o Sindicato dos Motoristas de São Paulo entra em eleição a partir desta quinta-feira (11). Os manifestantes cobram transparência no processo eleitoral.
O bloqueio dos acessos aos terminais aconteceu na véspera do início da eleição do sindicato, em plena campanha eleitoral - o Sindicato dos Motoristas de São Paulo entra em eleição a partir desta quinta-feira (11). Os manifestantes cobram transparência no processo eleitoral.
Segundo Ronaldo Moraes, que faz parte da chapa de oposição que disputa a presidência do sindicato, a comissão eleitoral, imposta pela presidência atual, já entregou três listagens com o número de votantes - a primeira com 22 mil, a segunda com 26 mil e a terceira com 29 mil nomes. Moraes afirma que o sindicato conta com 35 mil contribuintes aptos a votar.
Além disso, segundo Moraes, a comissão eleitoral ainda não definiu os horários que as urnas serão levadas para as seções eleitorais nas garagens - as urnas têm que estar nos locais de votação até a meia-noite, segundo ele. "Não queremos prejudicar a população, queremos chamar a atenção para a falta de transparência do processo eleitoral", disse, cobrando transparência.
O presidente do Sindicato dos Motoristas de São Paulo, Isao Hosogi, conhecido como Jorginho, afirmou que a chapa de oposição não participou das reuniões que definiram os nomes da comissão eleitoral e que agora tenta cancelar a eleição. Jorginho informou ainda que já estão definidos os horários de saída das urnas. A única indefinição no processo eleitoral, segundo ele, é o local da apuração. O presidente acredita que não há segurança para que a contagem dos votos seja feita na sede do sindicato. Segundo ele, 300 seguranças particulares foram contratados para garantir a segurança das urnas.
Jorginho informou que apenas 29 mil motoristas e cobradores estão aptos a votar, já que o estatuto do sindicato prevê que os eleitores devem ter no mínimo seis meses de filiação. Segundo o presidente, a oposição é uma minoria que se formou após ele optar por compor sua chapa à reeleição apenas com nomes "ficha limpa". Em 2010,
"A diretoria de um sindicato tão importante como este tem que ter em sua composição membros com ficha limpa para que possa representar a categoria (...) Apesar que não sou nada contra o crime organizado, cada um faz o seu papel, mas não podemos aceitar que o tesoureiro do sindicato, que é candidato a presidente da outra chapa, fique ameaçando a nossa diretoria. Inclusive a maioria da diretoria que participa da chapa deste ano decidiu que seria uma chapa ficha limpa, e o Valdemar [candidato a presidente] não tem ficha limpa", atacou Jorginho.
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